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PRISÃO DOURADA
Autora Ana Lavrador
Idioma português
Editora Kotter Editorial
ISBN 978-989-54870-1-1
1.ª edição, 2020
Capa mole com badanas, 110 páginas
“CARTOGRAFIA DA ESTRANHEZA, NO ROTEIRO DE LIBERTAÇÃO”
Regina Correia
Submetidos ao jugo inusitado do confinamento, em tempo plúmbeo de pandemia, por razão de um microscópico ainda-meio-desconhecido vírus, surge-nos, nítida, ao ouvido, a voz inspiradora de Mia Couto (in O outro Pé da Sereia), como alavanca vital do sonho: “A prisão é um lugar onde se dorme muito e o sonho substitui o viver. É a única coisa que o sistema não pode encarcerar: os sonhos”.
É nesse andamento de rio (quase) profético de destruição do entorpecimento, que Ana Lavrador vai construindo e encenando um diário da “prisão”, em versos dialogantes com a realidade circundante, numa cartografia do corpo físico e anímico da cidade e da casa, agora “nicho possível de universo” (p.), e com o eco dos sonhos onde, ousadamente, porque convicta, espreita e avança a Liberdade.
Em sua lavra poética lúcida, inspirada, comprometida, acompanhamos Ana Lavrador, num “tempo suspenso” (p. ) das criaturas e das coisas, como consciência de asfixia abrupta feita de silêncio, de medos, enraizada na estranheza e no vazio material e psicológico, em modo de fatalidade. Simultaneamente, vislumbramos, em cada sinal do inventário do desconforto, a luz que ensina o itinerário do resgate colectivo e individual, em regozijo ecológico do abrandamento da mão humana sobre o mundo, dando berço ao sentimento paradoxal de saudade futura dos tempos da quarentena.
Assume-se, enfim, pela arte, o vértice de uma certa catarse psicanalítica da noção de culpa, de pecado capital, de estampa da morte. E os “dias sem nome” regressarão ao calendário solar dos “eleitos que têm na palavra arma, e na poesia forma de resistência”.
Ana Luísa Figueiredo Lavrador da Silva é licenciada em Geografia, mestre em Geografia Física e Ambiente e doutorada em Artes e Técnicas da Paisagem. A paisagem é o seu tema central de investigação. Colabora em projetos académicos ligados às paisagens literárias e ao turismo em regiões vinhateiras. Tem publicados os livros "Paisagens de Baco" (Ed. Colibri, 2011) e "Eu sou como um fragão da minha terra. O poeta e a paisagem" (IELT-FCSH, 2013), além de uma vasta lista de artigos em revistas científicas e literárias. Conferencista em congressos, colóquios, seminários e palestras.